Síria. Um mês após a queda de Assad

O dia 8 de dezembro de 2024 deixou uma marca indelével na história da Síria e do Médio Oriente. A chegada dos rebeldes a Damasco e a fuga de Bashar Al-Assad para a Rússia ditaram o fim de um regime que se prolongou no país por mais de meio século. Os repórteres David Araújo e José Manuel Rosendo estiveram entre os primeiros jornalistas portugueses a chegar ao terreno e recuperaram, um mês depois, pedaços da experiência de reportagem.

As últimas semanas da Síria ficaram marcadas pelo desvendar das atrocidades e crimes cometidos pelo regime, sobretudo durante a guerra em curso desde 2011, mas também pela libertação de detidos nas prisões e o regresso de milhares de refugiados.

Sem a opressão do regime ditatorial, mas com num país com um futuro político ainda muito incerto, os repórteres da RTP, José Manuel Rosendo e David Araújo, acompanharam de perto os primeiros passos de uma Síria que se reergue e em busca de estabilidade, após 53 anos de liderança da família Assad.

José Manuel Rosendo e David Araújo estiveram em reportagem em vários locais da Síria entre 10 e 23 de dezembro de 2024.

Texto: David Araújo e José Manuel Rosendo
Fotografias: David Araújo


Foto: David Araújo - RTP
“Liberdade”
A queda do regime de Bashar al-Assad a 8 dezembro de 2024, levou milhares de sírios às ruas para celebrar o fim do regime, entoando cânticos de esperança e liberdade, as famílias reuniram-se para celebrar aquilo que descrevem como um “novo começo”.

Apesar da euforia, é necessário reconstruir, reconciliar e unir o país. Superar as divisões é um desafio enorme.








“Fé”
Na Síria, num Mosteiro a norte de Damasco, vive uma freira portuguesa há já 16 anos, a irmã Myri. Atravessou toda a guerra que começou em 2011, confessa que teve medo e, apesar de ter fé no futuro, reconhece que há uma grande incerteza para a minoria cristã.

“Matadouro Humano”
Desde o início da guerra civil síria, em 2011, a tortura foi amplamente documentada em prisões e centros de detenção administrados pelo regime de Assad. Relatórios de organizações como a ONU, Amnistia Internacional e Human Rights Watch destacaram o uso sistemático de tortura contra civis, prisioneiros políticos e combatentes opositores.

A prisão de Saydnaya, nos arredores de Damasco, descrita como “matadouro humano”, foi um dos locais onde milhares de pessoas foram executadas. Agora, são muitos os que procuram algum registo que os leve a saber do paradeiro de familiares e amigos desaparecidos.












“Secção Palestina”
A guerra tem muitas coisas horríveis, mas mesmo quando não há guerra o ser humano consegue ser terrivelmente mau e quando pensamos que já vimos o pior que podemos imaginar, acabamos surpreendidos.

Na Síria, um dos locais mais temidos pelos opositores do regime de Assad era a principal secção dos serviços secretos em Damasco, a Secção Palestina. Os prisioneiros, antes de serem enviados para a cadeia, eram ali interrogados e torturados. Percorrer escadarias e corredores, espreitar para a miséria patente nas celas minúsculas, escuras e húmidas, olhar os desenhos e inscrições nas paredes, olhar para os traços marcados na parede que registam a passagem dos dias e imaginar como deve ter sido longo cada minuto passado ali.

Fazemos aquela pergunta tão elementar: Como pode um ser humano fazer tanto mal a outros seres humanos?













Oração
Milhares de pessoas encheram a Grande Mesquita de Damasco para a primeira oração de sexta-feira desde a queda do regime.

Para já, prevalece a esperança, é a liberdade que vivem.





Yarmouck

Campo palestiniano na zona sul de Damasco, criado na Síria em 1957. Em março de 2011, a Revolução eclodiu na Síria e nos anos seguintes o campo foi quase totalmente destruído. Num olhar de 360º a devastação é incrível.

Após a queda do regime de Bashar al-Assad, a Síria enfrenta um gigantesco desafio de reconstrução. Mais de treze anos de guerra deixaram marcas profundas.









Morgue

Na Síria, continua a busca pelas pessoas desaparecidas durante a guerra. Não se sabe ao certo quantas são. As famílias não se cansam de continuar a procurar e a busca passa pelas morgues dos hospitais.





Valas
São aos milhares as pessoas desaparecidas na Síria.

Há poucas certezas quanto às valas-comuns. Já existem algumas confirmações mas há também muita informação falsa a circular. Os Capacetes Brancos alertam para a necessidade de fazer um trabalho meticuloso, feito por peritos, que permita o registo de dados para posterior identificação das vítimas.